Um
teólogo holandês. Arminius nasceu em Oudewater (18 m. em direção ao
leste e nordeste de Roterdã) em 10 de outubro de 1560 e morreu em Leiden
em 19 de outubro de 1609. Após a morte prematura de seu pai ele foi
morar com Rudolphus Snellius, professor em Marburg. Em 1576 retornou
para casa e estudou teologia em Leiden sob Lambertus Danæus. Aqui ele
passou seis anos, até que recebeu autorização dos burgomestres de
Amsterdã para continuar seus estudos em Genebra e Basel sob Beza e
Grynæus. Ele fez preleções sobre a filosofia de Petrus Ramus e a
Epístola aos Romanos. Sendo chamado de volta pelo governo de Amsterdã,
em 1588 ele foi nomeado pregador da congregação reformada. Durante os
quinze anos que passou aqui, ele obteve o respeito de todos, mas suas
concepções sofreram uma mudança. Sua exposição de Rm 7 e 9 e seu
pronunciamento sobre a eleição e reprovação foram considerados ofensas.
Seu colega, erudito mas irascível, Petrus Plancius se opôs a ele em
particular. Disputas surgiram no consistório, que temporariamente foram
impedidas pelos burgomestres.
Arminius
foi suspeito de heresia porque considerava o consentimento com os
livros simbólicos como não unificadores e estava pronto a conceder ao
Estado mais poder nas questões eclesiásticas do que os rígidos
calvinistas gostariam de admitir. Quando dois dos professores da
Universidade de Leiden, Junius e Trelcatius, morreram (1602), os
administradores chamaram Arminius; e Franciscus Gomarus, o único
professor de teologia vivo, protestou, mas ficou satisfeito após uma
entrevista com Arminius. O último assumiu suas obrigações em 1603 com um
discurso sobre o ofício sumo sacerdotal de Cristo, e se tornou doutor
em teologia. Mas as disputas dogmáticas foram renovadas quando Arminius
realizou palestras públicas sobre a predestinação. Gomarus se opôs a ele
e publicou outras teses. Sucedeu uma grande agitação na universidade e
os estudantes foram divididos em dois partidos. Os ministros de Leiden e
de outros locais participaram da controvérsia, que se tornou geral. Os
calvinistas queriam que a questão fosse decidida por um sínodo geral,
mas os Estados Gerais não queriam fazê-lo. Oldenbarneveldt, o estadista
liberal holandês, deu em 1608 a ambos os oponentes oportunidade para
defender suas opiniões diante da suprema corte, e o veredicto
pronunciado foi que, visto que a controvérsia não tinha qualquer relação
com os pontos principais relativos à salvação, cada um deveria ser
indulgente com o outro. Mas Gomarus não se renderia. Até os Estados da
Holanda tentaram realizar uma reconciliação entre os dois, e em agosto
de 1609, ambos os professores e quatro ministros foram convidados para
fazer novas negociações. As deliberações foram primeiro mantidas
oralmente, sendo depois continuada por escrito, mas foram encerradas em
outubro com a morte de Arminius.
Em suas Disputationes,
que foram parcialmente publicadas durante sua vida, parcialmente após
sua morte, e que incluíam toda a seção de teologia, assim como em alguns
discursos e outros escritos, Arminius clara e diretamente definiu sua
posição e expressou sua convicção. No geral estes escritos são um belo
testemunho de sua erudição e sagacidade. A doutrina da predestinação
pertencia aos ensinos fundamentais da Igreja Reformada; mas a concepção
dela afirmada por Calvino e seus partidários, Arminius não poderia
adotar como sua. Ele não queria seguir um desenvolvimento doutrinário
que tornava Deus o autor do pecado e da condenação dos homens. Ele
ensinava a predestinação condicional e atribuiu mais importância à fé.
Ele não negava nem a onipotência de Deus nem sua livre graça, mas ele
considerava que era seu dever preservar a honra de Deus, e enfatizar,
baseado nas claras expressões da Bíblia, o livre-arbítrio do homem bem
como a verdade da doutrina do pecado. Nestas coisas ele estava mais do
lado de Lutero do que de Calvino e Beza, mas não pode ser negado que ele
expressou outras opiniões que foram vigorosamente contestadas como
sendo afastamentos da confissão e do catecismo. Seus seguidores
expressaram suas convicções nos famosos cinco artigos que eles
apresentaram diante dos Estados como sua justificação. Chamados de
remonstrantes, por causa destas Remonstrantiæ, eles sempre se recusaram a ser chamados de arminianos.
Tradução: H. C. Rogge, em The New Schaff-Herzog Encyclopedia Of Religious Knowledge, Vol I, Editado por Samuel Macauley Jackson
A
posição de Jacob Armínio (1560-1609) e seus seguidores – frequentemente
conhecidos como remonstrantes – quanto à graça, o livre-arbítrio, à
predestinação e à perseverança dos crentes. Armínio era um teólogo
calvinista holandês que, em todos aqueles pontos nos quais a tradição
reformada diferia da católica ou da luterana, continuou sendo
calvinista. É importante recordar isso, visto que frequentemente se diz
que o arminianismo é o contrário do calvinisrno, quando na realidade
tanto Arrnínio como seus seguidores eram calvinistas em todos os pontos,
exceto nos que debatiam. Além disso, é necessário notar que o debate
envolvia também o interesse de um dos grupos em sublinhar o calvinismo
estrito a fim de salvaguardar a independência recentemente conquistada
do país, enquanto que o outro buscava posições que tornassem mais fácil
para o país comercializar com outros que não fossem estritamente
calvinistas. Em parte, por essa razão, os calvinistas estritos
fundamentavam seus argumentos sobre as Escrituras, e o princípio da
justificação só pela graça, construindo sobre isso um sistema
rigidamente lógico e racional, enquanto seus opositores desenvolveram
argumentos igualmente coerentes fundamentados sobre os princípios
geralmente aceitos da religião – razão pela qual em certo modo foram
precursores do racionalismo.
Armínio
envolveu-se em um debate quando resolveu refutar as opiniões daqueles
que rejeitavam a doutrina calvinista estrita da predestinação. Mas então
se convenceu de que eram eles que tinham razão, e se tornou o principal
defensor dessa posição. Os calvinistas estritos que se opuseram a ele e
que mais tarde condenaram seus ensinamentos eram supralapsarianos.
Sustentavam que Deus havia decretado antes de tudo a eleição de alguns e
a reprovação de outros, e depois havia decretado a queda e suas
consequências, de tal modo que o decreto inicial da eleição e reprovação
pudesse ser cumprido. Também sustentavam que as consequências da queda
são tais que toda a natureza humana está totalmente depravada, e que o
decreto da predestinação é tal que Cristo morreu unicamente pelos
eleitos, e não por toda a humanidade. Em princípio, Armínio tratou de
responder a essas opiniões adotando uma posição infralapsariana; mas
logo se convenceu de que isso não bastava. Criticou então seus
adversários argumentando, em primeiro lugar, que sua discussão dos
decretos da predestinação não era suficientemente cristocêntrica, visto
que o verdadeiro grande decreto da predestinação é aquele “pelo qual
Cristo foi destacado por Deus para ser o salvador, a cabeça e o
fundamento daqueles que herdarão a salvação”; e, em segundo lugar, que a
predestinação dos fiéis por parte de Deus baseia-se em sua presciência
de sua fé futura.
Visto
que a doutrina da predestinação de seus opositores se fundamenta na
primazia da graça, e de uma graça irresistivel, Armínio respondeu
propondo uma graça “preveniente” ou “preventiva”, que Deus dá a todos, e
que os capacita para aceitar a graça salvadora se assim decidirem. E,
visto que a graça não é irresistivel, isso implica que é possível um
crente, mesmo depois de haver recebido a graça salvadora, cair dela. Foi
contra todas essas propostas dos arminianos que o Sínodo de Dordrecht,
ou de Dort (1618-19) afirmou os cinco pontos principais do calvinismo
estrito, a depravação total da humanidade, a eleição incondicional, a
expiação limitada por parte de Cristo, a graça irresistivel, e
perseverança dos fiéis.
As
teorias de Armínio foram adotadas por vários teólogos de tradição
reformada que não estavam dispostos a levar seu calvinismo às
consequências que Dordrecht as havia levado. O mais destacado entre eles
foi João Wesley (1703-91). Entre os batistas ingleses, aqueles que
aceitaram o arminianismo receberam o nome de “batistas gerais”, porque
insistiam que Cristo morreu por todos, enquanto que aqueles que
ensinavam a expiação limitada foram chamados “batistas particulares”.
Fonte: Breve Dicionário de Teologia, p. 46, 47.